28 dezembro 2010

Por mais que tente, nunca irá afastá-la

Hoje o R. me apresentou ao artista Gabo Ferro, e pude conhecer esta canção fabulosa chamada Sobre Madera Rosa.

Tengo un mandala
pintado en Jaipur
bajo un vaso con agua con dos gotas de gin
Una trampa cazadora de espíritus del Japón
y un espejo que atesora el origen del sueño
Una muñequita vudu
con los miembros zurcidos con pelo de cabra negra
Una pulsera con semillas sagradas
florecidas y perfumadas
Tengo un manuscrito
sin rótulos ni tapas
con grabados de una mujer partida en tres
Una mascara del Durbán
y una rueda mágica enlazada a un asno
Una falda turca de un ajuar
y un retrato grabado sobre madera rosa
Serenidad escrito en una lengua muerta
con sangre de niño y de casadera
Y sobre un formidable insecto embalsamado
con los ojos picados por querer aparearse
Con las alas cuarteadas y todavía con sangre
una imagen tuya conmigo fuera de plano.

Gabo Ferro



13 dezembro 2010

Vivo


"Quando se vive para a vingança,
e o objeto dessa vingança morre,
a vida não faz mais sentido"




Assisti Zinda, que eu pensava ser, declaradamente, um remake do maravilhoso Oldboy. Ao pesquisar sobre o filme descobri que os produtores não afirmam que, sequer, basearam-se no filme sul-coreano, ou seja, juram de pés juntos que as semelhanças são meras coincidências. Certo, então. É fácil acreditar.

Excetuando a cara de pau dos realizadores indianos, o filme é ótimo. Confesso que o baixei apenas para rir do que achei ser uma completa trapalhada, praticamente uma paródia do original. Em vários momentos Zinda parece mesmo um outro filme, pois muitos pontos da história foram mudados, mas não há como fugir da saga de vingança de Oh-Dae Su. Estão aí os mais de dez anos preso em saber o porquê, o treinamento dentro da cela, o momento em que as técnicas de luta são testadas contra uns marginais na rua, e a famosa cena de luta contra dezenas de capangas, em um take só. Esperava muito por esta parte, e não me decepcionei. Mesmo não tendo a grandiosidade da cena original, Gupta (o diretor de Zinda) soube recriar algo digno, realocando a cena que, originalmente parece um jogo em 2D, para uma tomada em profundidade, utilizando as três dimensões.


Algo interessante de notar em Zinda é como a sexualidade é tratada de forma muito diversa ao filme sul-coreano. Não há qualquer menção ao incesto (que, segundo li, é um imenso tabu na Índia), e as cenas de "sexo" são apenas sugeridas. Em Oldboy há um momento em que alguns homens capturam a personagem Mi-Do e a amarram. Quando Oh-Dae Su chega na casa, Mi-Do está com a blusa aberta, e um seio de fora. Na versão Indiana a personagem Jenny está com a blusa aberta, mas de sutiã, o que nos passa a impressão de que os homens não tiveram ainda tempo de tocá-la, o que é desmentido pelo diálogo.


Concluindo, é um Oldboy indiano. Mas um Oldboy bastante diferente. Praticamente um outro filme que chupou algumas das sacadas geniais de Chan-Wook Park para compor uma outra história. E, para considerá-lo um bom filme, basta assisti-lo sem ter em mente o original.

11 dezembro 2010

Prontas para viver


Tenho aquela sensação permanente de que há uma idade para começar as coisas, seja ela qual for. Uma impressão de que, a certo momento da vida, pode ser tarde demais para iniciar um novo projeto, não haver mais tempo para aprender algo. Se você não começar logo, esqueça; seu tempo passou.

Assisti hoje o filme francês Le Hérisson que, segundo penso, tenta desconstruir esta visão de mundo, pois parece que não são poucos os que raciocinam como eu. Acredito que a diretora Mona Achache criou uma inversão de papéis, onde uma garotinha prestes a fazer 11 anos acredita não ter mais o que aprender da vida. Por outro lado, deposita em outra personagem, a zeladora, na casa dos 50 anos, a responsabilidade de reacender o brilho pela própria vida.

Acho que há uma sutil mensagem de desespero, uma forma de alertar para o fato de que se você espera demais, ou deixa a vida passar, quando a descobrir (ou redescobrir), pode ser tarde demais, pois a todo segundo já pode ser o nosso "tarde demais".

Se estamos o tempo todos sendo espreitados pelo nosso derradeiro momento, o que há para fazer? A mensagem da jovem Paloma vem logo no início; não é porque vamos morrer que precisamos vegetar a espera. O filme é um louvor à vida, a viver a vida a cada momento, para que quando a inesperada vier nos resgatar deste mundo, possamos saber exatamente o que estávamos fazendo nesse momento, e não nos arrependermos por poder ter feito algo melhor.

07 dezembro 2010

De quantas inspirações se faz um escritor?

Acredito que todos os que gostam de ler, verdadeiramente, já tentaram escrever algo. E todos que já tentaram escrever algo, em algum momento de suas vidas, encontraram o impasse da tal "inspiração".

Quando comecei a lidar com literatura, acreditava que os escritores eram seres escolhidos por forças divinas, que desciam à terra com o poder de contar maravilhas por meio de suas histórias escritas. Nessa época - era jovem - pensava que ninguém podia escolher, simplesmente, ser escritor. O escritor seria escolhido, só não sabia pelo que. Pela inspiração - uma musa - era uma boa resposta. Então o objeto desta reflexão deveria ser a tal inspiração.

Pois bem, se apenas uns poucos são agraciados com ela, quer dizer que não se podia escolher ser escritor, certo? O jovem e o religioso tem um ponto em comum: a crença de sempre há algo místico por trás das coisas. A inspiração era essa mística, essa benção concedida àqueles que nos brindam com seus relatos maravilhosos. Foi aí que li uma entrevista que bagunçou minhas ideias, falava que a literatura é mais transpiração do que inspiração. Para o autor de Morte e Vida Severina a literatura, como qualquer ofício humano, é produto da prática, do labor, da dedicação e aperfeiçoamento da técnica. Não adianta o sujeito ser agraciado com a mais alta inspiração, se for um preguiçoso que não se debruça sobre aquilo que lhe foi concedido. E assim João Cabral ensinou-me que sim, é possível escolher ser escritor, e para sê-lo, é necessário trabalhar. O violinista passa horas por dia ensaiando em seu instrumento, a bailarina sobre seus pés, por que diabos acreditar que o escritor senta em frente a uma folha de papel e ali "psicografa", de um só jato, todo o texto maravilhoso ditado por sua inspiração? Bobagem romântica.

Mesmo assim, para mim, ainda havia um ponto de interrogação ao redor da inspiração. Ela não é o estritamente necessário, mas também não é absolutamente descartável. Como diz o próprio João Cabral, o trabalho deve ser maior que a inspiração, mas não que ela não se faça presente, o que quer dizer que ainda assim precisamos dela. Foi quando comecei a pensar que a biografia seria estritamente relevante na obra de um bom escritor. Ele precisaria ter uma vivência interessante, conhecido muitas coisas, passado por situações as mais diversas, para ter material com o que trabalhar. Quer dizer, um homem comum, trabalhador semanal, sem dinheiro para viagens extraordinárias, não seria um escritor interessante. Felizmente, mas uma vez, cheguei à conclusão de que estava errado. Desta vez não por ler uma entrevista, mas por algumas reflexões ligadas à vida e obra de alguns escritores, embora, justiça seja feita, fortaleci meu ponto de vista com uma entrevista do Moacyr Scliar, onde ele afirma acreditar que o bom escritor é aquele que tem sensibilidade para retirar dos fatos mais corriqueiros particularidades suficientes para engendrar uma boa história.

No momento estou a ler o livro Papillon. É certo que Charrière (ou seja lá qual for o verdadeiro autor do livro) passou por poucas e boas, dignas de relatos extraordinários. Por outro lado, boa parte de sua história se passa dentro de celas escuras, onde várias vezes o personagem se encontra sozinho, e mesmo nesse momento o gênio literário prevalesce, conseguindo arrancar da rotina da reclusão solitária uma ótima história.

28 novembro 2010

Adaptações e Seres do mar

Eu me pergunto qual deve ser a grande dificuldade em se adaptar um livro para o cinema, excetuando, é claro, as diferenças entre as duas linguagens. Refiro-me à questão de roteiro somente, à história em si. Fico curioso para entender o porquê de ótimas histórias serem deliberadamente mutiladas e destruídas em suas versões cinematográficas.

Assisti hoje ao filme Dagon, baseado no conto A sombra de Innsmouth, do Lovecraft. São tantas as alterações (e empobrecimentos) da história feitas pelo diretor que tenho preguiça de listá-las, mas pelo menos duas merecem registro:

1) No conto o narrador chega a Innsmouth sozinho, por curiosidade e interesses científicos. Ele está interessado em aspectos antropológicos e na arquitetura local. No filme há um casal que vai parar em Imboca (Innsmouth) por conta de um acidente de barco. Mais uma vez a necessidade americana de colocar um casal no meio de tudo. Além do que, se o narrador original da história de Lovecraft é um personagem interessante, que consegue fazer com que criemos alguma empatia por ele, e fiquemos angustiados com apuros que é obrigado a passar durante sua noite em Innsmouth, no filme o casal de protagonistas é uma dupla de imbecis completamente desprovidos de qualquer característica interessante. Torci o tempo inteiro para os filhos do mar lançarem-nos o mais rápido possível no poço de Dagon, ou qualquer coisa do tipo.

2) Lovecraft aborda várias vezes no conto o espanto de Robert (o narrador) para com a língua e a forma de falar dos habitantes de Innsmouth. Ele diz várias vezes "tenho certeza de que não é inglês", ao se referir às vozes que ouve pelos corredores e pelas ruas. Acredito que o diretor Stuart Gordon se apegou a essa frase e facilitou o serviço fazendo com que seus Imbocanos (habitantes da Galícia, na realidade) falassem espanhol. Deveria não ter esquecido da outra frase que Robert usa para se referir à linguagem local: "também não parecia em nada com sons humanos". Uma preocupação maior com a língua poderia ter dado um aspecto de maior seriedade ao filme.

Além disso, os habitantes da cidade são muito mal cuidados e foram criados com pouca criatividade. As imagens que podem ser extraídas das descrições de Robert, no livro, abrem espaço para uma miríade de criaturas realmente espantosas para a inteligência humana, o que não acontece em Dagon, a não ser quando é apresentado o personagem Xavier., um ser realmente bizarro. Os habitantes da Imboca de Gordon parecem mais com zumbis que andam pelas ruas se arrastando e gritando palavras em espanhol do que com os seres descritos no conto. Na verdade, levando em consideração esse aspecto, Dagon se assemelha mais com Resident Evil 4 (playstation II) do que com a história sobre Innsmouth.

A força poética da última parte do livro é trabalhada de forma muito pobre na versão cinematográfica, embora seja uma das melhores sequências do filme, mesmo que muito decepcionante, quando se tem em mente o fim original do conto.

Em resumo, mais uma decepção da relação literatura/cinema.

Dagon "tradicional"

Forma do "Dagon" no filme, pelo que se pode imaginar em sua rápida aparição.


P.S.: O personagem principal lembra muito o Jeffrey Combs, cheguei a pensar que poderia se tratar de um filho dele, o que concederia ao filme uma estrela a mais no meu filmow, afinal, colocar um filho do Combs em uma adaptação do Lovecraft seria algo praticamente ritualistico.



17 novembro 2010

Mais futebol

Certo, aconteceu hoje o clássico do futebol sulamericano/mundial: Brasil x Argentina. Os vizinhos venceram por um a zero (Messi), depois de um jogo, a meu ver, beirando o medíocre, em ambos os lados. Tudo bem até aí. Duas seleções mitológicas podem, vez ou outra, mostrar um futebol razoável/ruim, até porque nunca entendi como manter uma "tradição" tão grande em torno de algo tão volátil e instável como uma seleção nacional.

O lance interessante, pelo menos comigo, é o fato de torcer para a Argentina. Não saberia explicar exatamente o porquê disso, mas há dois apontamentos: 1) fico indignado com o patriotismo de copa do mundo, onde todo mundo, de 4 em 4 anos, idolatra a pátria verde amarela, para deixá-la no esquecimento depois, quando não no ódio, se a seleção for eliminada. Além do que, a maioria dessas pessoas, passa os mesmo 4 anos não dando a mínima para futebol. 2) considero o futebol argentino muito mais encantador que o brasileiro atual. Ainda há, por aquelas bandas, sinais de amor pelo que se está fazendo, e não só de estar em um "emprego", que é jogar bola. E não é só em relação à seleção; acho muito mais bonito ver um River x Boca que um Flamengo x Corinthians, por exemplo. Mas a nível de seleção a coisa é muito maior. Juntando o 1º motivo ao encantamento com o futebol deles, e o desencanto pelo lado de cá, é difícil não estar do lado hermano, quando o assunto é futebol.

Só para deixar claro, não sou um anti-seleção brasileira, ou algo do tipo, como alguns torcedores não-argentinos da Argentina. Simplesmente, entre os dois, fico com os camisas celestes.

Um fato que considero curioso é que, quando digo para algumas pessoas que torço para a Argentina, imediatamente surgem a perguntas: "você nasceu lá?", "tem parentes lá?", "Então por que torcer?". Se eu morasse em um lugar onde as pessoas escolhem seus times por apoio regional, em que pertencer à geografia do time é algo importante, entenderia os questionamentos. Agora quando a pergunta vem de alguém que mora no interior do Goiás, de alguém cuja família veio inteira do Ceará, e torce para o Internacional, ou de um brasiliense que nem sabe onde fica o Flamengo, mas torce para o Rubro-Negro, não há como conversar, só achar graça.

No mais, Vitória hoje! Gol do guerreiro-garoto Messi. (E o "menino" Neymar do Galvão Bueno não conseguiu encará-lo, como disse desejar).




16 novembro 2010

Barrilete Cósmico y Orgullo Cordobés

Punk + Rodrigo "El Potro + Futebol + Maradona = Felicidade.

Não tenho palavras para descrever minha animação quando descobri este cover. Conheci a banda Talco quando procurava músicas relacionadas ao clube alemão St. Pauli, então baixei um EP chamado exatamente St. Pauli e deparo-me com um belíssimo ska-punk italiano. Mas o melhor estava por vir: a 3ª faixa, chamada La Mano de Dios. Quando li, pensei "não é possível", mas era verdade. A música é um cover da bela canção do cuartetero argentino Rodrigo "El Potro" Bueno, que narra a história do mitológico Diego Armando Maradona.

Como diria aquele narrador fantástico uruguaio, durante o jogo da Argentina na copa de 86: "gracias dios por el futbol, por Maradona".

Bem, ei-la:


Baixe o EP, ou o cd Mazel Tov, e tenha um dia mais feliz.

11 novembro 2010

Aos cristãos perseguidos

Acabei de assistir a um clipe interessante. Um vídeo de um grupo genérico de música gospel. Nele, ocorre o seguinte: são mostradas várias cenas de pessoas pelo mundo; asiáticos, africanos, etc. Não-cristãos e não-europeus, para ficar claríssimo. Essas pessoas são mostradas trajando roupas ou participando de momentos que denunciam o seu "não-cristianismo". Depois de rodar pelos grupos diversos de pessoas, o vídeo vai retornando a cada um deles, mostrando-os em um momento de sofrimento, enquanto a música diz "você tem um amigo ao seu lado, Ele vive, ele está contigo", e assim por diante (nada clichê, lógico). Depois de mais uma rotação pelos grupos, é a vez de voltar a cada um deles e mostrar o momento de encontro com um "missionário" que os apresenta à fé de Cristo. Não é preciso frequentar um ministério da fé qualquer para imaginar que a próxima cena mostrará as pessoas em um momento de triunfo, naquelas situações de mãos estendidas, e cara de jogador quando faz o gol. Ou então de mãos dadas, balbuciando palavras com lágrimas nos olhos.

Eu penso em porque uma canção-vídeo dessas se preocupa em mostrar a conversão de um aborígene australiano, de um budista vietnamita, ou de um praticante das artes africanas, ao invés da conversão a Jesus de um europeu ateu, ou praticante dos variados neo-paganismos indo-europeus. Tem a ver com cristianizar ou europeizar?

P.S.: O título faz referência à frase que aparece no fim do vídeo: "Servindo cristãos perseguidos". O negrito é deles, não meu. Sim, se você não for cristão, dane-se se for perseguido.

10 novembro 2010

"Teatro Satânico" Português

Vi em um informativo virtual sobre música que Aires Ferreira lançara seu primeiro álbum. Não conhecia o artista, mas fiquei curioso ao ler que se tratava do gênero "spoken word", um estilo que aprecio desde que conheci Boyd Rice. O fato de ser em português aguçou mais ainda minha curiosidade.

Pois bem, o álbum está disponível gratuitamente e não esperei muito para conhecer o trabalho de Aires. Após duas músicas foi impossível não pensar "é um Teatro Satânico português!" E não estou a chamar o trabalho do luso de imitação, mas de algo muito diverso dentro do gênero. A comparação com a dupla italiana fica na enorme variação vocal de Aires. O sujeito é capaz de interpretar vários papéis dentro de um mesmo som, e variar do monólogo comum ao spoken a agoniantes gritos de desespero.

Sem delongas, a quem ler, ouça este "bloco de assofrimentos":
http://www.sanatorioprod.com/AiresFerreiraRuina2010.rar

.22

"As calibre .22 são as preferidas dos profissionais. Tem força para perfurar a caixa craniana, mas não o suficiente para sair, ricocheteando lá dentro e destruindo o cérebro."

28 outubro 2010

Infantopolítica

Uma pequena pesquisa, envolvendo estudantes das séries iniciais de dois colégios do DF sobre as eleições, apresentou resultados interessantes. O estudo consistia, simplesmente, em assistir um trecho do debate entre os presidenciáveis do 2º turno e fazer um desenho livre que os retratasse.

O que achei interessante, mas não surpresa, foi a constatação de que o apoio a Dilma é maior na escola da Ceilândia (periferia do DF) do que na escola da Asa Norte (um dos pontos de concentração da classe média-alta brasiliense). Na escola da Asa Norte houve até um garotinho que saiu pulando e gritando o nome do candidato do PSDB. Ainda criança, infectado pela esquizofrenia da mão direita.

Alguns dos desenhos:



27 outubro 2010

Rir ou temer

Ligo a televisão à noite, depois da rotina, e a programação não é novidade; horário eleitoral. Confesso que, no primeiro turno, gostava de assistir. Divertia-me bastante com os exóticos candidatos a deputado distrital e federal que apareceram. Às vezes me dava ao luxo de dar uma espiada nos canais de outras regiões e pude conhecer outras figuras, de MG, SP, GO, etc. Assisti às propagandas do Tiririca.

No segundo turno as coisas mudam, ficam mais sérias. O horário político perde a graça. Aqui temos propaganda para governador, também. Nada de novo; o ridículo a que a senhora Roriz - o nome Weslian aparece minúsculo na propaganda, acima do imenso RORIZ - se expõe é tão absurdo que nos dá a impressão de que os assessores de sua campanha são pagos pelo adversário PTista. Detalhe: ela só apareceu em um debate onde, deliberadamente, auto-humilhou-se. Depois disso Agnelo tem participado de "debates-solo".

Agora o temor. Tive medo quando assisti à propaganda de Serra. Não pela presença do mesmo, ou de seus discursos já bastante conhecidos. Temi ao perceber que vivemos em uma nação onde uma parcela tenebrosa da sociedade, os evangélicos, tem uma imensa influência. Serra não se contenta em apresentar um pastor dando um discurso a seu favor. Não! Ele utiliza DOIS no mesmo programa. O primeiro, uma figura que nunca vi, talvez conhecido por alguém de outras regiões brasileiras. O segundo - eis o ápice do medo - era o Sr. Silas Malafaia. Um dos sujeitos mais reacionários, fundamentalistas, grosseiros, aproveitadores que esse país já teve o desprazer de conhecer. É interessante saber o que Malafaia diz a respeito de seu apoio a Serra:

"Minhas defesas políticas são pessoais. Eu falo em meu nome. Como cidadão tenho direito de apoiar quem eu quero. Mas você tem outros interesses, você tem medo do (José) Serra ganhar. Que Deus tenha misericórdia de você!"

A afirmação de Malafaia é dirigida ao bispo Edir Macedo, que declarou seu apoio à Dilma, mas é claro que, no cérebro pentecostal-sociopata de Malafaia, se aplica a qualquer cidadão que não vote em Serra. Deus tenha piedade de todos aqueles que votarem no PT, pois Ele está com o candidato tucano.


Chegamos a um ponto delicado de nossa história, em que percebemos uma inquisição moral protestante se erguendo a cada dia. Rir diante do ridículo dos fatos ou temer pelo nosso futuro? Não cheguei a uma conclusão...

22 outubro 2010

Profetizo um fim próximo. Não para mim; para a humanidade. Serei somente um pavio, o gatilho para a enorme revolução cultural do século, que trará o gosto amargo do fruto da sabedoria ao coração de todos. E após isso, somente os medíocres aceitarão continuar vivendo. Serei mártir e guia da vindoura geração, a daqueles que serão muitos, por se relegarem ao nada.

Uma nova geração de homens surgirá após isso, a daqueles que atingirão o autoconhecimento pleno a partir da própria destruição, e o deixar de existir será o ápice da existência.

Focos destes homens já fagulham pelo globo, em aparições cada vez menos espaçadas, mas são mentes ainda incompletas que, cegas pelo incrível amor, levam, à força, seus irmãos à salvação.

Os monges de Columbine foram alguns dos precursores de nosso trabalho, América, terra fértil para a iluminação. Depois vieram os irmãos da Coréia, Finlândia. Mas ainda não foram plenos, não foram capazes de controlar o amor arrebatador, pois forçaram a serem seguidos, quando a real missão deve ser levar à conscientização para que sejamos seguidos espontaneamente.


Quimeras,

durante uma manhã de iluminação.

[Fragmento]


21 outubro 2010

Só histórias

Hoje pensei: com tantos filmes e livros bons pra caralho no mundo, para que sair de casa? Para que enfrentar um mundo tão infeliz e cruel? Eu não sei a resposta. Mas pensei também que essa mesma merda de mundo é a matéria prima para esses livros e filmes tão fabulosos...

19.09

13 outubro 2010

Dois mundos colidem

É comum ouvir de pessoas "politizadas" o argumento de que o futebol aliena as pessoas, faz com que fiquem submissas a um espetáculo para que mantenham-se ocupadas, enquanto os acontecimentos realmente "importantes" acontecem por trás das cortinas. Alguns o comparam à religião, o clichê ópio do povo.

Sou de opinião absolutamente contrária. Concordo com Galeano, quando diz que o futebol é como uma peça de teatro, e como em tal, há vários atores envolvidos, e pode se valer de várias tramas. Assim, é óbvio que podemos relacionar o futebol, em várias situações, à alienação coletiva, como por exemplo, o efeito que a copa do mundo causa no Brasileiro. Há também as alianças milionárias entre clubes e empresas, as contratações das grandes "estrelas" que enriquecem o futebol como espetáculo, e mancham-no como esporte.

Por outro lado, certas manifestações servem para lembrar que o futebol vai muito além de fanáticos alienados que gastam todos os seus neurônios acompanhando tabelas, e seu dinheiro em cervejas para ver o jogo na televisão. Não tenho intenção de comentar exemplos clássicos como os dos clubes St. Pauli, Barcelona, Livorno, etc. O que me incentivou a rascunhar estas poucas linhas foi o incidente desta última terça-feira, na partida entre a Sérvia e a Itália, pelas eliminatórias da EuroCopa-2012.

Cenário: alguns torcedores sérvios (torcida do time Estrela Vermelha) tentaram atacar o ônibus de sua própria seleção, tendo como alvo o goleiro Vladimir Stojkovic. Motivadores: um gol sofrido por Stojkovic na última partida da Sérvia, contra a Estônia, e a transferência do goleiro para a equipe Partisan.


A imprensa marca como principal causa dos incidentes a ira da torcida para com o fato de Stojkovic ter sido o "principal" responsável pela derrota da seleção Sérvia, e deixa de lado um detalhe, a nosso ver, mais importante: a consciência - mesmo que primitiva - que têm alguns torcedores: A de que o futebol deveria ser uma manifestação de paixão, de amor pelo time em que se joga, e não um espetáculo capitalista, comandado pelo dinheiro e suas manipulações. Vladimir Stojkovic jogava pelo Estrela Vermelha, time que tem como maior rival o Partisan. A rivalidade entre as duas equipes de Belgrado é conhecida como uma das maiores da Europa, e a partida entre elas é chamada de Clássico Eterno pelos torcedores dos times. O que aconteceu é que Vladimir rompeu o pacto da paixão que há no verdadeiro futebol. Ao transitar entre as duas equipes demonstrou que não há respeito pelo que representam e sim por quanto podem pagar. Ele não é um jogador de um time, representante de uma equipe, é um funcionário assalariado em busca do melhor emprego. Nem todos os torcedores aceitam isso.

Não tentamos justificar os atos de violência e vandalismo. Não há qualquer defesa para o que aconteceu no início da partida, muito menos no que diz respeito às tentativas de agressão da torcida para com Vladimir; os torcedores do Estrela Vermelha podem se orgulhar de sua consciência, mas deveriam se envergonhar de seus atos. Havia outras formas, muito mais inteligentes, de demonstrar sua repulsa pela vergonha que é o futebol-mercado.

E enquanto houver resistência por parte de alguns clubes (por incrível que pareça, ainda existem), e de alguns torcedores, o chamado futebol-moderno ainda passará por poucas e boas. Os dois mundos continuarão a colidir; o do verdadeiro espírito e o do esporte-mercado.


Torcedores da Sérvia causam tumulto em Gênova antes do jogo com a Itália, pelas eliminatóriaspara a Euro-12. O início do jogo atrasou 40 minutos por conta da confusão e acabou sendo cancelado. (Fonte: Uol)


05 outubro 2010

Bang

Duas almas, uma vida. A vida;
uma arma compartilhada pelas duas almas.
Uma, inevitavelmente, deve cair.


04 outubro 2010

Cuidando da vida e do motor do carro

Existem caras que se agarram a deus quando surge um problema (um problema de rua), outros tem MUITOS amigos, são quase uma gangue. Outros, mais sortudos, tem os dois, deus e os amigos. Auxílio espiritual e carnal. A minoria não tem nenhum dos dois. E é complicado pertencer a essa terceira categoria, principalmente quando você não é um cara que se adapta muito bem às coisas, especialmente aos outros. E você lembra que já precisou se preocupar em se manter vivo, por ser um entre os outros, ou por ser outro entre uns. De todos os lados alguém já falou que você deveria morrer, e você pensa "ok, mas me deixa resolver isso sozinho". O problema é que fazem questão de mostrar que gostariam de resolver isso por você. Fica a pergunta: quando? Mas tudo bem, acontece poucas vezes mesmo, e dá pra lembrar dessas histórias quando desce do ônibus e caminha em direção ao trabalho.

Mas quando você passa em frente a uma oficina mecânica e, ao olhar para dentro, pensa que precisa comprar óleo para o motor do carro, aí sim se pergunta "o que diabos eu fiz com a minha vida?".

28 setembro 2010

"Give them hope, give them strength..."

Eu me consterno fácil com várias coisas, com pessoas que nem conheço. Um sentimento de solidariedade construiu-se em mim com o passar dos últimos anos. Aquece-me o espírito ver duas mulheres de quase quarenta anos caminhando em direção ao colégio, a comentar de suas dificuldades nos estudos, com a mesma aflição e pureza (acredito que até mais) que um par de pré-adolescentes em idade escolar.

Acaba com minha noite ver, na rodoviária, senhoras mais velhas que minha mãe tendo de vender balas e refrigerantes para sobreviver. E não tenho ouvidos para o discurso reacionário covarde do "isso que dá não estudar".

Por mais que em muitas situações eu tenha vontade de não ligar para nada disso, que veja que na maioria das vezes o povo é o maior culpado pela grande maioria de suas dificuldades, por tamanha sujeição e alienação, por mais que tenha ímpetos de transformar minha visão em um totalitarismo aristocrático elitista von-thronstahlniano, quando vejo a senhora das balas na parada de ônibus, sinto que há algo de errado com o mundo.

20 setembro 2010

O que sou hoje...

O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos ...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos. . .

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira! ...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...



Álvaro de Campos

15 setembro 2010

Detruit Tout

Sabe aquela cena do This is England, em que o Combo soca o Milky até à morte? Tudo o que leva até aquele ponto? Aquilo é fantasticamente trágico. E faz tanto sentido. É fantástico por ver como a essência da coisa foi captada; trágico por ver como tudo pode ser destruído tão facilmente...



Good times for a change
See, the luck I've had
Can make a good man
Turn bad

So please please please
Let me, let me, let me
Let me get what I want
This time

Haven't had a dream in a long time
See, the life Ive had
Can make a good man bad

So for once in my life
Let me get what I want
Lord knows, it would be the first time
Lord knows, it would be the first time

Clayhill

25 agosto 2010

Menos gente, mais carro

Acabou de passar uma reportagem no jornal da record sobre o crescimento do mercado de veículos de luxo no Brasil. Carros que custam mais de um milhão de reais. No final da matéria, a repórter (que nem me dou ao trabalho de decorar o nome) afirma que é "muita coragem comprar um carro desses, ainda mais em uma cidade violenta como São Paulo".

Eu me pergunto a que ponto chega a inocência/ignorância dessas pessoas para não perceber que se uma cidade como São Paulo é tão violenta, é justamente porque há gente que gasta um milhão de reais num único carro. É mais dinheiro do que uma pessoa irá ganhar durante toda a sua vida.

22 agosto 2010

O primeiro de todos

Havia aquele rapaz que, por pertencer a um povo, não tinha contato com o outro. Naquela época acreditava que os povos diferentes significavam incoerências existenciais insuperáveis, barreiras intransponíveis. É o que era ensinado a todos, pelos mais velhos do povo, pelos "conhecedores". E ainda é assim, mas o rapaz, com a lucidez da insatisfação adquirida pelo tempo e pelo desgosto, percebeu que dois povos se separam pela linha da incompreensão mútua, e que dois povos são um só, do início ao fim.

E daquela noite em diante, nada mais estaria entre ele e o homem.

"A primeira e a última letra da Torá formam a palavra coração. Não há mais conhecimento que o Amor. Você pode. Atreva-se. Você é um domador, e cada letra é um leão".

. . .


Noites de domingo são sempre infelizes. Há, é claro, algo que faz com que elas sejam suportáveis, mas ainda não possuo isso. Tenho uns dois anos de espera até que os domingos se tornem dias como outros. Até lá, vejo e revejo filmes.

18 agosto 2010

Cybercansaço

Tenho estado cansado de internet. O mal dela é que não é como um telefone, em que você se comunica com quem quer, diretamente, sem precisar "encontrar" com algo desnecessário na trajetória. E esse "algo" é sempre incomodo, detestável, a ponto de me fazer ter vontade de nunca mais acessar nada disso, e viver isolado, a ter a certeza de que terei contato somente com aquilo que estimo, com quem gosto.

Meu cansaço maior volta-se para os intelectuais de internet. Eu fico, como posso dizer, abestalhado de ver tanta gente escrevendo textos enormes, "eruditos", lotados de citações e mais citações de trinta diferentes filósofos e/ou escritores. Cansado de ler opiniões emitidas por pessoas que não se dão ao mínimo trabalho de formular um pensamento sequer, mas se acham muito sábias por entenderem um conceito político de Platão. É isso que nossas academias nos ensinam; seu texto deve ser um monobloco de citações de pessoas que "legitimem" o seu conhecimento, assim o estudante, ao invés de construir um texto próprio, brinca com um joguinho de lego, cujos bloquinhos sobrepostos são formados por pensamentos já formulados. Cabe a ele contextualizar aquilo dentro do que pretende dizer, ou deixar que digam por ele.

Posso concluir, sem vergonha alguma: sou antiacadêmico! Sim, digo, dane-se seu diploma de direito, seu mestrado em comunicação social, suas estúpidas horas de estudo! Eu digo, dane-se Platão e sua república, dane-se a dialética de qualquer alemão que seja, se você não é capaz de produzir uma única porcaria de texto em que a espinha dorsal não sejam duzentas citações inexpressivas.

Se é necessário citar, fico com Schopenhauer quando diz que um intelectual que se vale dos pensamentos de outrem é como um careca usando peruca, que cobre a cabeça com aquilo que não é seu, por carecer de fios próprios.

09 agosto 2010

Cada coração é uma célula libertária

Eu não assisti a muitos filmes na vida. Quando uma pessoa fala que já assistiu a muitos, eu espero que realmente sejam MUITOS. Não é meu caso. Não assisti a tantos, mas acredito ter visto filmes o suficiente para tornar-me um pouco chato. Certos clichês me aborrecem, e às vezes me fazem perder totalmente o interesse pelo filme.

Não na categoria de destruir um filme, mas na de aborrecer um tanto, está o mais frequente desses clichês: o caso de amor entre protagonistas. Eu gostaria de saber porque apenas em pouquíssimos filmes somos poupados dessa situação que, grande parte das vezes, acaba embolando e desvirtuando a trama. Às vezes um pouco, em outras, acabando completamente com o filme.

Ontem assisti ao alemão The Edukators que, assim como tantos, sofre dessa enfermidade. A idéia do filme é ótima, quando li a sinopse fiquei muito interessado pelo contexto de terrorismo poético e intervenção presentes na história. Tudo funciona muito bem até mais ou menos a metade do filme, quando a paixonite entre dois dos personagens faz com que o rapaz esqueça dos seus anos de prática em invasão de mansões e ponha todos os seus ideais e sua causa em jogo. É uma dessas situações que soam inverossímeis, principalmente quando acompanhamos a construção do caráter engajado e militante do personagem.


Um dos momentos mais lúcidos do cinema mais atual, no que diz respeito ao "amor" durante o filme, é quando a personagem Marji, do filme Persépolis, militante de ideais libertários, diz que o amor é um sentimento burguês. Tempos depois ela se apaixona por um rapaz, e percebe que os ideais não salvam uma pessoa dessas coisas. É simples, sincero, verossímil. Não há nada forçado, podemos sentir que a coisa acontece, tem seu tempo. Os Edukadores sofrem o contrário disso, o romance acontece rápido demais, e estraga tudo o que esperamos para o filme. Não que quebrar expectativas seja ruim, mas o filme poderia seguir um caminho mais "contestador", poderíamos dizer. É um bom filme, recomendaria aos amigos mas, no fim, ainda prefiro a revolução armada homossexual do Raspberry Reich.


03 agosto 2010

Dois mil e dez

Uma das partes mais importantes da minha vida é a música. Não muito em fazê-la, mas em ouvi-la. Ainda não consegui criar um ritmo que me satisfaça enquanto criador, e talvez nunca alcance isso então, por enquanto, fico só por ouvir.

2010 tem sido um bom ano para ouvir música. Digo por conta dos bons lançamentos que tive oportunidade de ouvir, como o Nos Chants Perdus, do Rome, ou o Immortel, dos Dernière Volonté, mas tive duas boas e reais surpresas esse ano.

A primeira: o novo da Dance of Days. Que belo disco! Depois do A dança das estações pensei que a banda iria se perder num som mais moderno, feliz e popular. Feliz engano, voltaram com um disco tão direto, agressivo e "sincero" quanto o Coração de Tróia. Nenê é um grande cara, mesmo.

Em segundo lugar, o Rotten Roma Cassino, de Salvatori e sua gangue. Quando assisti ao clipe de Darkroom Friendship pensei "certo, a banda acabou". Estava enganado. O álbum foi lançado e, embora não seja grandioso e genial como o antecessor, é um ótimo material, com belas músicas.

Outro grande momento "musical" de 2010 foi a possibilidade de ver, em São Paulo, a apresentação de duas grandes bandas americanas de Hardcore: Terror e H2O. Não conhecia muito bem o som do Terror, ouvi apenas dois álbuns, sem prestar muita atenção, e nem sei quantos a banda já lançou. Já de H2O sou um grande admirador, e estava bastante ansioso para vê-los ao vivo. As duas bandas foram espetaculares, mas é preciso dizer que o vocalista do Terror, Scott Vogel, é uma grande figura que realmente representa o espírito do que é (ou pelo menos deveria ser) o hardcore. Ele proporcionou os momentos realmente marcantes da noite, como quando disse "We are not a shit rock band, we are hardcore kids, just like you", ou quando disse que o microfone pertencia ao público e não a ele, e o jogou para que o pessoal cantasse. A parte mais bonita foi quando Scott, ao beber um gole de sua cerveja, levantou a lata de disse "com todo respeito aos amigos straight edges, que é uma coisa muito bonita". O cara sabe das coisas e, pra quem é de Brasília como eu, e vê uma separação ridícula e infantil entre sXe's "radicais" e não sxe's, foi algo belíssimo. Lembrei com isso de um trecho de uma música nova da Dance of Days, que exemplifica bem o que digo:

Olhe pra você.
Pare agora!!!
Tente entender, foi por tão pouco...
Roupas diferentes, "beber X não beber",
"amor X protesto" não deixaram ver
que roubavam aos poucos
tudo o que nos faz viver.

Enfim, apesar dos pesares do fim de semana, um grande concerto, com a melhor companhia que poderia haver. Espero ter mais oportunidades como essa em breve.



28 junho 2010

Um Amor Sincero

No carro as notícias do dia e da semana não eram ouvidas. Dirigia como que num estado de torpor, por entre o éter universal. Sentia uma solidão baseada na carne, implacável por conta de uma fidelidade ferrenha e submissa. Dinheiro não era o problema; poderia comprar o prazer que quisesse, a qualquer hora e lugar. Era jovem e, como costumam dizer, bem sucedido na vida. Ser desejado fazia parte de ser o que era.


Comprou flores, champanhe, atrasou em meia hora a chegada – programada para duas horas mais cedo que o habitual – esperando a barca de sushis encomendados que ela adorava. Uma surpresa que traria como recompensa uma noite especial, como as de anos atrás.


Era culpado, ele sabia, por ter deixado as coisas se tornarem tão glaciais entre eles e estava obstinado – desde àquela visão – a reconquistar as delícias de um passado não tão distante.


A convicção para agir veio da última manhã quando, pela primeira vez em não sabia quanto tempo, viu a esposa no balcão da cozinha, vestindo apenas suas lingeries finas, de um tecido preto que ele não sabia o nome e um roupão branco, semi-transparente. Não lembrava das delícias que aquele corpo podia proporcionar. Ignorava, pelo tempo, a uniformidade perfeita da carne, a rigidez, a alvura. Sentiu agulhadas pelo corpo inteiro quando pensou a quanto tempo não a tocava, não a desejava, e a sensação de espinhos na carne se tornou mais profunda quando veio à mente a idéia de que deveria haver um motivo para conservar toda aquela perfeição, mesmo que o último contato carnal entre eles estivesse ligado a tempos quase imemoriais.


Outro homem? Foi o que imaginou no primeiro momento, mas sentiu vergonha de si mesmo. Tinha horror às condenações sem provas, aos julgamentos imprecisos e meramente opinativos. Decidiu reaver aquela mulher do que quer que fosse; outro homem, do tempo, dela mesma.


Não tentou forçar um contato surpresa, não pretendia assusta-la. Sentou à mesa da cozinha, em silêncio, observando-a preparar seu chá. Ela só percebeu sua presença quando se virou para ver porque o cachorro da casa estava tão alvoroçado. Era um belo animal, pastor alemão de porte, dos que quase não se vê hoje em dia. O marido lhe acariciava a cabeça e o cão, na indecisão entre receber o afago passivamente e retribuir o afeto, acabara pulando, para colocar as patas sobre o colo do dono, e derrubando o pequeno jarro de flores de sobre a mesa.


Ela olhou com ternura enquanto percebia o gesto surpreendido do marido que, envergonhado por ter estado ali a observa-la, baixava os olhos para o montinho de terra úmida sobre a cerâmica imaculada da cozinha. “Vamos limpar esta bagunça”, ela disse, enquanto se aproximava, com um sorriso nos lábios, dos destroços do vaso estilhaçado.


O homem perguntou se ela precisava de ajuda e ela, num tom um pouco mais sério, disse que não, que estava tudo bem. Ele se levantou dizendo que ia se arrumar para ir trabalhar, cambaleante de uma paixão reacesa por aquela ninfa que deslizava pela cozinha e limpava a terra com as mãos com uma graça que parecia pertencer a outro plano material.


Não havia notícia financeira, política, internacional que o fizesse se desligar das memórias do início do dia. O rádio fora ligado por simples hábito. Enquanto pensava, acariciava lentamente o banco do passageiro, como se uma perna de pele lisa e adorável estivesse ali, pousada sob seus dedos.


Teve um pouco de dificuldade para tirar sozinho as coisas do carro e subir o lance de escadas para o primeiro andar. Já na porta, colocou a barca e a garrafa no chão, para procurar as chaves. Quando finalmente as encontrou, por entre os bolsos do casaco, abriu rapidamente a porta, com a habilidade adquirida pelos anos de residência.


A porta dava direto para a sala principal e a visão que teve lhe explicava, na velocidade de um clarão, os acontecimentos da manhã, até então ignorados; o voltar de cabeça com aquela expressão bondosa incompreensível, o sorriso compassivo quando viu seu vaso tão adorado destruído, a paciência em recolher o que restou, a resposta fria quando tentou falar com ela.


A primeira coisa que viu foi o rosto estarrecido da esposa, apoiada sobre o sofá, por entre os cotovelos, a olhar para a porta escancarada, mas foi quando viu o cachorro que o raio da iluminação atingiu seu peito, com a capacidade de pulverizar a mais forte das almas em instantes.


Deixou as flores caírem, não soube o que dizer por vários segundos, enquanto ela se levantava, tentando se recompor. Ele, ainda com uma expressão de terror, deu um passo indeciso e desajeitado para dentro, tropeçando na garrafa. A bebida que regaria aquela noite, pensou, quando olhou para o champanhe no chão.


A mulher, encorajada pelo desencontro de olhares, soluçando de perturbação enquanto lágrimas começavam a minar, perguntou se ele queria dizer algo. Ele a fitou. Agora sem expressão alguma, como um corpo que perdeu o espírito. Sem dizer nada começou a andar em direção ao quarto e, quando passou ao seu lado lhe disse ao ouvido, convicto:


- Amanhã comprarei uma cadela.

Un millón de años...


"Cuando tenga 90 años estaré alegre,a los 100 seguiré contento,a los 300 me sentiré estupendo,cuando tenga un millón de años seré una fiesta".

Jodorowsky

26 junho 2010

Às vezes tenho dó de certas pessoas. Não tenho de quem enfrenta dificuldades na vida, e mantém uma dignidade, uma força, como dito por Lobo Antunes aqui. Essas pessoas merecem respeito.

Na verdade tenho dó de quem não cresce, não se desenvolve por pura imposição pessoal de limites. Por fechar-se, por vontade própria, para qualquer mudança, qualquer transformação que signifique desengessar suas formas de pensar cultivadas desde uma adolescência infétil e intolerante.

Como disse antes, tenho tentado cultivar um pouco mais de tolerância em mim mesmo, mas não creio - na verdade, nem tento - que consiga deixar de ser intolerante com pessoas que cultivam uma pretensa "intolerância" juvenil.

23 junho 2010

Como cheguei a pensar o que penso neste exato momento

Saramago morreu. Como não podia deixar de ser, li as notas e artigos que saíram na mídia sobre ele. Não me lembro como, mas cheguei a um artigo em que Harold Bloom chama Saramago de "o maior romancista vivo" e "um dos últimos titãs de um gênero que está para sumir". Não são essas palavras, exatamente, mas é o que ele diz. Foi assim que, hoje, pensei que, se houvesse algum interesse em "salvar" a literatura, por assim dizer, ou algum novo movimento literário que lutasse por algo, um dos objetivos deveria ser salvar o romance.

Isso é possível nos tempos dos blogs e de publicações tão insignificantes que mal são lembradas e citadas pelas bocas dos "leitores" de tudo aquilo que é novo? Esses leitores não tem paciência, tempo e disposição para ler o que é antigo. O romance é algo antigo, velho, é ultrapassado. Não interessa se você consegue ler a saga completa do Crepúsculo ou qualquer outro livreco sobre vampiros, bruxas, cavaleiros, etc. Você não é um leitor de romances e, se o fosse, provavelmente não perderia seu tempo com essas leituras. Então sim, o romance é antigo, velho e ultrapassado para a nossa nova civilização de leitores de filmes-emulados-em-livros-emulados-em-filmes ad infinitum. Imagino que os "autores" dessa safra dos romances pós-romances já escrevam seus livros pensando em qual ator teen seria ideal para seu herói galante, e qual patricinha (ou revoltadinha estilizada) se encaixaria no papel da mocinha.

O futuro do romance, então? Saramago me perdoe pelas palavras mas, só deus sabe!

P.S.: Haverá um documentário sobre a vida e o relacionamento do Saramago e sua esposa, Pilar, com estréia prevista para novembro. Quem apreciava a obra desse simpático senhor deverá achar muito interessante. Aqui o trailer.


22 junho 2010

À espera da operação Black Jack



Sim. Como eu imaginava, nada nem perto dos fatos da sinistra operação Black Jack ocorreu hoje. Enquanto trabalhava, lembrei da tarde do fatídico 11 de setembro. Eu, então com 16 anos, angustiado em frente à televisão, a pensar que algo muito grande iria ocorrer por conta daquilo. Aconteceu, mas não como se passava na minha cabeça juvenil. Imaginei que, depois daquilo, todos tivéssemos de ir para a guerra, sem saber o porquê, sem saber nada.

Pois bem, hoje não houve Black Jack, mas li que os Estados Unidos, ao lado de Israel (ou seria o contrário?), enviaram 12 navios de guerra em direção ao Irã. Fato não noticiado pela mídia ocidental, mas enfatizado pela israelense. Preparação para a temida retaliação ao Irã? Provavelmente. E o mesmo sentimento que tive, infantilizado, aos 16 anos, volta à minha cabeça. Não por mim, mas por aqueles que terão de arcar com a (pre)potência mundial.

Pelo menos uma coisa foi positiva neste dia; pelo que parece, os dias de ação global não findaram ou, pelo menos, não completamente. Os manifestos contra a cúpula do G8 e do G20, em Toronto, começaram na mesma sexta-feira do envio dos barcos.



Sempre que penso em AGP, e nos Dias de Ação Global, lembro na frase pichada tantas vezes durante os protestos famosos: "Nós estamos vencendo". Pode nunca ter sido, mas naquele ponto parecia verdade. E hoje? Continuamos vencendo?


11 junho 2010

Televisão é o combustível

Quinta-feira sentei em um restaurante do Bandeirante para almoçar e a televisão estava ligada. Passava algo sobre "personalidades de Brasília". Era um desses programas onde os "repórteres" vão às festinhas mais badaladas perguntar o que o figurinha está achando da night, falam sobre composição de figurino, entrevistam uns políticos palermas e suas respectivas esposas imbecis (ou vice-versa). Infelizmente não consigo lembrar o nome do programa (é algo parecido com o do Amaury Júnior), pois acredito que todo cidadão de Brasília deveria assisti-lo, para começar a odiar cada filho da puta que não precisa levantar cedo para ganhar um salário, e justamente por isso te fazem trabalhar mais e mais horas por dia, para bancar suas festinhas numa mansão que vale mais que um hospital ou uma escola. E se você não odeia, é porque faz parte das fileiras que deveriam ir à execução.

Esse episódio me fez lembrar do lindo conto do Rubem Fonseca, em que o "Cobrador" diz que toda vez que sente seu ódio diminuindo basta sentar alguns minutos em frente à televisão para se encher de raiva. Afinal, eles nos devem muita coisa.

30 maio 2010

Isto era apenas o tempo...


Sempre tive um problema com o tempo. Na verdade, não sempre, nem com o "tempo", exatamente. Era com minha idade. E de uns anos para cá. Depois dos vinte, para ser mais preciso.

Por um bom período tive na cabeça a idéia de que estava começando a ficar velho para as coisas. Para qualquer coisa que eu já não fizesse, ou seja, achava-me velho para iniciar algo, ou para começar a aprender algo. Apresentava projetos a mim mesmo e, quase que automaticamente, reverberava na minha cabeça que era inútil a essa altura da vida. Aprender alemão aos 24 anos de idade? Tocar um instrumento diferente? Inadmissível, era a palavra corrente.

Foi então que houve uma ruptura, representada pelo meu vigésimo quinto aniversário. Nesse dia, diferentemente dos outros anos, não me martirizei por ter mais um ano nas costas, mas decidi romper com o tempo. Simplesmente ignorá-lo. Tomei consciência de como a limitação pelo tempo é uma barreira moderna para a evolução individual do homem.

Uma feliz coincidência, após esse dia, foi ler uma entrevista com o
D. Tibet, onde que ele conta como se interessou e começou a aprender a língua copta, aos 40 anos.

E eu a pensar que, aos 24 anos, era tarde demais para aprender um simples alemão.

17 maio 2010

Um cachorro emborrachado

Encontrei as anotações que fiz de um sonho estranho que tive no fim do ano passado. Decidi digitá-las, e aí está.

Eu estava em um lugar amplo, que lembrava um templo antigo, com colunas amareladas, de um dourado envelhecido. Lá havia um homem estranho, alto e forte, de cuja aparência não me recordo bem.

Sentei num degrau e vi um cachorro vindo correndo em minha direção. Quando se aproximou, notei que era muito diferente, sem expressão. Quando o toquei percebi que o cão parecia emborrachado, como uma daquelas máscaras de festas à fantasia. Eu o tocava e acariciava, ele se movia como um cachorro normal, vivo, e não como um autômato de borracha.

Fiquei impressionado porque pensei que aquilo não era possível, haveria realmente algum cachorro cruelmente encarcerado dentro daquela casca de borracha? Era incrível e eu não conseguia deixar de horrorizar-me com a idéia de ter um cachorro preso ali até a morte.

Fui até o dono do local, supostamente o dono do cachorro e perguntei o que era aquilo, se era um cachorro verdadeiro preso ali dentro, e quem praticava aquele tipo de crueldade. O homem era impenetrável, muito sério. Pediu-me para olhar no ânus do cachorro, onde havia inscrições em romeno que indicavam a procedência do animal. Era algo místico, esotérico.

Depois disso ele me convidou para conhecer uma sala (ou corredor) que ficava numa “esquina” dentro de um corredor, difícil de descrever. Entrei nesse corredor mas não tive coragem de entrar no local que ele indicava. Devia haver fogo ou algo do tipo lá dentro, pois via um reflexo alaranjado na parede.

Saí do corredor e encontrei meu pai, minha mãe e um primo do meu pai na porta. Voltei ao início do corredor com esse primo para que ele visse a tal sala do fogo, mas antes de prosseguirmos vi que o homem havia entrado nessa sala anterior à do fogo e mexia um caldeirão com uma mistura que parecia uma sopa grossa. Disse algumas palavras. Ele falava amigavelmente, mas de forma séria. Foi quando, parecendo ser sem querer, derramou um pouco da mistura no chão, e espirrou na minha perna. Pulei com a dor, pois aquilo havia me queimado muito, e com o pulo do susto acabei virando a esquina do corredor. Demorei um pouco para voltar por causa da dor. Quando entrei na sala do caldeirão novamente, onde antes estava o primo do meu pai, havia um esqueleto com alguns pedaços de carne viva, visivelmente queimado brutalmente, mas não com fogo. Era como se tivesse sido fervido ou algo assim, e sobre ele havia a sopa espessa que o homem preparava.

Ele ainda estava na salinha e mexia o caldeirão sem perceber mais nada ao redor. Saí e chamei meus pais para verem o que havia acontecido ao primo. Não lembro da reação deles, mas sei que saímos dali apressadamente.

Aqui há um buraco no que me lembro. Não sei o que fizemos a seguir, mas depois estamos em um ônibus estranho, minha mãe e eu. Não sei o que aconteceu com meu pai.

O ônibus era como uma grande sala, com um vão no meio e cadeiras apenas alinhadas às paredes, todas viradas para o centro do veículo.

Estávamos sentados no fundo, na parede do ônibus. Perto da porta, na frente à direita, havia um negro muito forte. Outro buraco, não sei que acontece, mas alguém entra (ou já estava dentro do ônibus), joga esse negro em cima de um balcão e, esticando seu braço, soca a região do ombro, uma vez só, quebrando-o seriamente. Depois abraça um outro homem e lhe quebra as costelas. Nisso entram no ônibus dois outros caras, muito fortes, também. Um deles pega o sujeito do braço quebrado, ajuda-o a levantar e sai com ele lentamente. O outro saca um revólver e atira impiedosamente contra o brigão.

Então o homem do revólver – um negro de óculos HB pretos, tatuagem tribal no braço – parece procurar alguém entre os passageiros, como se ainda tivesse algo a fazer ali. Saca uma espingarda e começa a atirar contra os passageiros, metodicamente, em sentido horário. Todos permanecem sentados, imóveis. Quando a mira é voltada para nós, preparo-me para tentar desviar, e quando o tiro é dado posso ver o projétil e fragmentos de chumbo vindo em minha direção. Desvio, mas sou atingido de raspão no braço. Isso acontece três vezes. Numa delas o tiro atinge minha mãe na barriga, causando um ferimento preocupante, mas não fatal a curto prazo.

Depois disso não lembro de mais nada com relação ao ônibus. Não sei se há alguma relação entre a primeira parte do sonho e essa outra, mas creio que fugíamos do homem do caldeirão naquele ônibus. Um homem que fabricava cascas de pele de borracha para cachorros.

Fomos parar numa mansão onde havia uns roqueiros cabeludos que, supostamente, poderiam ajudar minha mãe de alguma forma. Eles tinham uns cachorros ferozes, mas não me lembro muito dessa parte.

Em determinado momento minha mãe se dá conta de que também fui atingido e levanta a manga da minha blusa. Vemos que meu braço está coberto de algo que parece sangue a coagular, com aparência de massa de tomate.

Ela passa a mão em meu braço para tentar limpar e a “massa de tomate” vai se acumulando em seus dedos, como quando se passa uma faca sobre a manteiga. Estávamos numa espécie de banheiro e ela joga aquilo na pia. Há uns pedaços de algo verde no meio. Ela passa a mão várias vezes e sempre tira mais e mais daquilo do meu braço e joga na pia. Havia já muita daquela gosma lá.

Foi minha última visão no sonho...