03 abril 2014

Caminhadas e caminhantes


Apesar de ser um entusiasta das caminhadas em detrimento do deslocamento de carro, andar pelas calçadas de uma cidade pequena carrega consigo um aborrecimento não partilhado com quem passeia no confortável isolamento de um veículo: o encontro com pessoas conhecidas, ou pior, semi-conhecidas.

Não sei como outras pessoas lidam com isso, se há um jeito “normal”, ou “melhor” de encarar a situação. Acredito que muitos vêem no encontro casual um deleite para suas necessidades sociais. Não eu. Não aprendi a lidar. Surge em mim um momento muito peculiar de angustia quando, ao virar uma esquina, miro ao longe uma pessoa que conheço a vir em minha direção. Vem então à minha mente uma lista de possibilidades do que fazer, o que dizer e do que pode acontecer: toda ela desagradável. Baixo a cabeça enquanto caminho em direção à pessoa e penso na tenebrosa lista. Não consigo olhar para o sujeito, pois não tenho ideia do que fazer com meu rosto. Não tenho vontade alguma de sorrir, embora a falsa noção de sociabilidade nos imposta desde o útero nos diga que isso não é cordial. Para não sorrir, não olho, mas sei que o encontro é inevitável. E o medo de que a pessoa deseje alguma espécie de conversação? O cumprimento já é o limiar da situação. Conversar é inimaginável - mas acontece. E a pessoa pára. Na minha frente, estanca em meu caminho, e não há nada o que fazer (a noção de sociabilidade), e paro, e tenho de responder àquelas perguntas tudobem-familia-trabalho-cidade-essamerdatoda que não levam a nada e que, obviamente, nenhuma das partes tem real interesse.

Toda a cena se constrói na minha mente, e dou graças aos deuses quando há só um rápido cumprimento, e passamos rapidamente um pelo outro, como deve ser para manter o bom funcionamento do universo.