29 março 2011

E livrai-nos de todo o mal

Eu sempre observei uma hipocrisia inerente a certas pessoas, certos movimentos e posturas. Uma porção de coisas nunca cheirou muito bem para mim e mesmo que tenha me aproximado de uma variedade de assuntos nos últimos tempos, esse mal-cheiro não desapareceu. Na verdade, torna-se mais terrificante com a proximidade. Um odor de velhas correntes, ou melhor, enormes pesos que, disfarçados de asas com belas plumas, prometem uma liberdade que só pode ser alcançada mediante certas condições. As condições que eles julgam corretas, as condições que formam moldes de como alguém deve ser. E se você não for como querem, não seguir todos os preceitos e dogmas, é o reacionário, o monstro pronto a devorar toda criancinha que aparecer no seu caminho.

Serve de ilustração a velha história, a ladainha que sempre vi ocorrer no meio black metal. Milhares e milhares de bandas e indivíduos envolvidos com esse tipo de som pregam as mais inenarráveis barbaridades contra os cristãos; da sodomia de virgens e freiras à decapitação e desmembramento do Cristo em si. Até aí é tudo bonito, tudo certo. Ser anticristão é algo que gera orgulho. É como sentir-se um guerreiro que combate um monstro inimigo de toda a civilização. E o que acontece quando uma banda dedica a mesma virulência contra os judeus? Se não estou completamente errado, as duas religiões vem da mesma raiz (e há ainda uma terceira, quem diria!?). O que acontece? Anti-semitismo! Nazismo! Monstros racistas e desprezíveis!

O mais absurdo é observar que muita (e muita gente mesmo) não percebe a contradição lógica que ocorre em apoiar uma coisa e ser contra a outra, principalmente de forma tão veemente. Muitos dirão "mas estamos falando de religião em um caso, no outro são pessoas". A argumentação é falha. Uma enormidade de bandas anti-cristãs não pregam apenas contra as normas religiosas, seus mitos fundamentais, etc. pregam, sim, uma caça generalizada a indivíduos cristãos, não interessa se são pessoas, se são negros, brancos, homens, mulheres, alienígenas convertidos. Em uma vasta coleção de letras podemos encontrar incitação direta à violência contra essas pessoas, violência física, moral, sexual. Agora, quando se lê a incitação à violência contra um "judeu" (como vimos, falar religiosamente ou etnicamente não faz diferença neste contexto) estão abertos precedentes para uma descarga de ações politicamente corretas que essas mesmas pessoas desprezam contra um outro inimigo selecionado.

O que cria este comportamento? Um senso moral? Se alguém acredita nisso, mesmo parecendo desnecessário dizer, será necessário observar que apoiar o extermínio, mesmo que metaforicamente, dos cristãos, inclusive enquanto indivíduos, não pode ser considerada uma atitude muito moral.

Não é meu objetivo agora pensar a construção dessa ingênua e aberrante falsa ética, logicamente falha, mas há muito a respeito para se raciocinar. No fundo, gostaria de saber se esses personagens tão anti-cristãos, que se enchem de dedos para apontar e ladrar contra alguma palavra de afronta aos judeus, são favoráveis, por exemplo, ao massacre dos cristãos Karen na Birmânia.

2 comentários:

  1. Confesso que nunca tinha pensado dessa forma.

    Gosto muito dos teus textos, H.

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  2. Há quanto tempo não passo por aqui!

    Muito bom o texto, hermano. Ficar incomodado com algumas coisas abre um mundo de pensamentos, eu acho bem interessante isso. E você tem uma pegada a mais: esse mundo vai se afunilando até uma possível/provável resposta. Esta característica é uma das que eu mais admiro em você, sobretudo porque é raro conhecer pessoas assim (eu mesmo pelejo pra ser, mas um dia a gente chega lá!).

    Abraço, te amo!

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