25 junho 2017

Geração de ferro

Eu sempre ouvi as pessoas falarem que aqueles que se dedicam ao desenvolvimento do corpo são "estúpidos", "burros", etc. Como todos os "marombeiros" não passariam de fracassados "bombados" que perdem seu tempo com academia, seu dinheiro com esteroides, e que "deveriam estar estudando".

Hoje, depois de alguns anos em que eu me dedico ao fisiculturismo (por gosto, nada profissional), percebo um cenário completamente diferente. Por certo que existem alguns indivíduos que levam o quesito "corpo bonito" como um objetivo rápido a ser alcançado, e se lançam na conquista deste desejo das formas mais precipitadas possíveis. Esses sim são estúpidos, bombados burros, que utilizam qualquer substância, considerando-as milagrosas, esquecendo de diversos outros pontos cruciais do desenvolvimento muscular.

Por outro lado estão os fisiculturistas profissionais. Hoje em dia tenho certeza absoluta de que as pessoas que formulam essas criticas generalizantes a respeito dos praticantes de academia nunca se deram ao trabalho de pesquisar alguma coisa sobre a vida de alguém que vive disso. Como eu estava conversando com um amigo há um tempo, esses sujeitos simplesmente não tem o direito de ser burros. A profissão deles não permite. A pressão a que eles são submetidos, a infinidade de detalhes que devem dominar para ter sucesso nessa carreira, tudo milimetricamente calculado, não possibilita que haja pessoas estúpidas neste esporte. É isso que separa os "bombados burros" de academia daqueles que levam o esporte a sério.

Acreditar que crescer é simplesmente aplicar uma substância qualquer no seu corpo, sem nenhum acompanhamento, depois treinar e comer porcamente, e ainda esperar algum resultado é o que se pode chamar de estupidez. Exatamente como aqueles que nunca treinaram e dizem "com esteroides até eu". Lembro de uma entrevista com um candidato a Mr. Olympia em que ele fala que ouve isso constantemente, e a resposta é "não, nem com esteroides você faria tudo o que eu faço". Pode parecer presunçoso, mas é a resposta a alguém que quer reduzir uma vida inteira de esforços e dedicação a algumas picadas de agulha. Sem fazer tudo o que ele faz, pesar cada refeição e contar seus micro e macronutrientes, sem comer todos os dias as mesmíssimas coisas, sem contar todas as horas de sono, sem se sacrificar nos aeróbicos em jejum, você não consegue só pelo esteroide. 

Kai Greene com uma de suas
pinturas ao fundo
Para confirmar ainda mais minhas convicções, assisti a pouco o excelente documentário Iron Generation que fala da rotina de sete candidatos a Mr. Olympia, o maior concurso de bodybuilding da história (aquele que fez a fama do Arnold). No filme se vê o que são homens focados em conquistar algo, e o que me chama mais atenção é como tudo está muito além do corpo, dos músculos. O fato é que tudo o que esses homens conseguem é pela mente, pelo poder mental que eles constroem para seguir a vida que tem. Uma capacidade de se manter focado e resistir às adversidades, uma capacidade de resiliência que os asnos do "com bomba até eu" não tem nem para evitar uma baladinha por mês pra não quebrar a dieta. 

A opinião geral sempre foi a do "bombado burro", e como sempre, tudo o que é opinião geral é desastrosamente equivocada.