Não sei
como outras pessoas lidam com isso, se há um jeito “normal”, ou
“melhor” de encarar a situação. Acredito que muitos vêem no encontro casual um deleite para suas necessidades sociais.
Não eu. Não aprendi a lidar. Surge em mim um momento muito peculiar de angustia quando, ao virar uma esquina, miro ao longe uma
pessoa que conheço a vir em minha direção. Vem então à minha mente uma lista de possibilidades do que fazer, o que dizer e do que
pode acontecer: toda ela desagradável. Baixo a cabeça enquanto
caminho em direção à pessoa e penso na tenebrosa lista. Não consigo
olhar para o sujeito, pois não tenho ideia do que fazer com meu
rosto. Não tenho vontade alguma de sorrir, embora a falsa noção de
sociabilidade nos imposta desde o útero nos diga que isso não é
cordial. Para não sorrir, não olho, mas sei que o encontro é
inevitável. E o medo de que a pessoa deseje alguma espécie de
conversação? O cumprimento já é o limiar da situação. Conversar
é inimaginável - mas acontece. E a pessoa pára. Na minha frente,
estanca em meu caminho, e não há nada o que fazer (a noção de
sociabilidade), e paro, e tenho de responder àquelas perguntas
tudobem-familia-trabalho-cidade-essamerdatoda que não levam a nada e
que, obviamente, nenhuma das partes tem real interesse.
Toda a
cena se constrói na minha mente, e dou graças aos deuses quando há
só um rápido cumprimento, e passamos rapidamente um pelo outro,
como deve ser para manter o bom funcionamento do universo.