Neste fim de semana assisti a alguns
episódios soltos do badalado The Walking Dead. O negócio é até interessante;
não deixa de ser recheado de clichês para quem vem da escola de zumbis dos anos
70/80, mas é competente. Porém o que me chamou atenção foi que, nos 3 episódios
que vi, por umas 3 vezes ou mais alguns personagens reprovavam duramente os
outros (vivos ou mortos) por terem "desistido". Desistido de salvar a vida de alguém ou
desistido da própria vida.
Não
consegui deixar de pensar em qual é o grande problema em "desistir",
seja lá do que for. Não falo de incompetência, deixar de fazer algo por simples
preguiça ou conformismo, mas do ato deliberado da desistência. Afinal, o
indivíduo que, ao verificar todas as suas alternativas, e decidir que o melhor
a fazer é desistir, deixar de perseguir algo que passa a julgar irrelevante ou inalcançável,
pode ser considerado tão desprezível? A desistência por meio de uma decisão não
é, assim como qualquer outra ação, um ato de manifestação do arbítrio do
indivíduo?
Fiquei
a pensar, e não soube responder, em qual momento da nossa história a
desistência passou a ser considerada um pecado tão miserável, a ponto de seus
praticantes serem considerados uma espécie de doentes perigosos para a
sociedade e merecerem, se não punições, no mínimo o desprezo.
Necessário
notar também a problemática com a "desistência" suprema, que é a de
desistir da própria vida. Não é necessário falar muito a respeito da influência
cristã no julgamento do ato suicida, sua relação com uma visão de mundo onde o
que prevalece é a sujeição do indivíduo às intempéries da vida; a humilhação no
lugar do ato de rebeldia. Não consigo evitar de lembrar a forma com que Sêneca
encara o suicídio, e das histórias que conta sobre pessoas honradas que
preferiram tirar a própria vida a sujeitarem-se à servidão. Lembro também de sua
bela metáfora, que parafraseio por não lembrar das palavras exatas; “uma pessoa
não deve esperar ser expulsa de uma festa, mas deve sair por conta própria, com
a dignidade da escolha; assim também é a vida” . A desistência é um ato de
liberdade.