10 setembro 2012

Um mito colossal


Sempre achei a ideia de som "monolítico" muito interessante e poderosa. Pensar em um tipo de sonoridade que não proporcione uma experiência apenas auditiva, mas também tátil. Camadas e mais camadas de som que mexem com a mente e o corpo. 

Mesmo me interessando muito pela ideia, nunca havia sido possível passar por essa experiência de forma convincente, pois não há como isso funcionar quando se ouve uma música por fones de ouvido. Também não possuo um equipamento de som digno de uma aparelhagem de shows, que me permita simular esse efeito. 

Não havia experimentado até ontem, quando tive a oportunidade de assistir a banda de São Paulo O Mito da Caverna. 

Não penso em tentar descrever o som da banda, afinal é só ir ao myspace ou bandcamp e ouvir. O significativo para mim nesta nota é falar da experiência. Não há como dizer que participar de um show assim seja como assistir um outro qualquer, por mais "pesada" que a banda seja considerada. Depois da noite de ontem começo a definir as coisas assim: existem bandas pesadas, e existem as "opressoras", e é aí que O Mito se encaixa. Você não só ouve o som, ele toca você. É uma matéria tão absurda de som, com um clima tão angustiante e colossal, que com o tempo se perde a vontade de olhar para a banda, afinal tudo nessa situação funciona de forma diferente. Num show comum temos a curiosidade de ver a performance dos músicos no palco; não foi assim que as coisas aconteceram ontem. O som lento, arrastado, "morto" como os membros da banda chamam, faz com que observar os músicos se torne algo tedioso, mesmo chato. Quando se percebe que olhar para frente não faz sentido é que a "magia" acontece. É como se não houvesse para onde fugir, o monstro sonoro está ao seu redor, e tudo que você pode fazer é se encolher e senti-lo encostando em você. Surge uma vontade de fechar os olhos, anular esse sentido que não tem valor nenhum agora, e deixar que só seus ouvidos e corpo participem da experiência. Você vibra, o corpo balança, e os ouvidos angustiados tentam descobrir o que está havendo, procurando decifrar as frequências titânicas. 

Eles tocaram apenas dois sons. Não tenho ideia de quanto tempo durou o show, tão imerso eu estava naquela situação. A única certeza é de que foram cerca de 40 a 60 minutos de apresentação. Quando tudo acaba, é como se voltássemos para dentro daquela caverna da alegoria que dá nome à banda, deixando para trás aqueles momentos angustiantes de experimentação de um momento de liberdade (ao menos estética).


Interessante como assistir ao vídeo não dá a menor noção de como é ter estado lá.