13 março 2012

Aceite nunca alcançar o nada

Não sei o que é pior, não ter nada, ou desejar não querer nada. Na verdade, nem sei se alguma das duas possibilidades é atingível. Queira ou não, sempre teremos algo; uma dúvida, um amigo distante, um resto de amor que dói, involuntário, como restos de comida nos dentes gastos. Queira ou não, sempre desejamos algo; você pode ter perdido completamente o encanto pela vida, mas o desapego a tudo será sempre um exercício repetitivo, ingrato, afinal, quando se deseja não desejar nada, este forte desejo evoca um oxímoro cíclico nauseante que culmina, ou no auto-engano fantasioso, ou na falta miserável.

Assim, procuro uma postura para quem deseja ver-se liberto daquela que, para mim, é a maior forma de opressão, sua própria limitação imposta pelo medo, pela insegurança, por um senso de moral que prioriza a tudo e todos, menos a própria felicidade. Talvez nós trabalhemos com um senso de felicidade tão estilizado pelos seriados americanos, pelas novelas e pelos comerciais de cerveja, que somos impelidos a perseguir um ideal impossivel, um estado de espírito incompatível com o que é ser humano e civilizado.

E as pessoas sabem disso cada vez mais, inconscientemente, e buscam essa felicidade cada vez mais, conscientemente, e na falha enchem-se de remédios, de álcool, de roupas e carros, de livros e filosofia, do mais infeliz senso de religião. Mas esta é a nossa natureza, desde que homens e mulheres decidiram dividir o mesmo espaço, compartilhar suas vidas uns com os outros. Somos completamente indefesos e incapazes de enfrentar tudo o que nos assola, mas aquele que finge conseguir é considerado o humano mais hábil.