01 agosto 2012

...há muita beleza aqui, como há muita beleza em toda parte

Viver por muito tempo em um mesmo lugar pode causar o amor e a vontade de permanecer ou o abuso e uma necessidade de partir. Há algum tempo tenho experimentado essa segunda situação com minha vivência onde moro. Um desejo desesperado de fixar-me em algum outro lugar, deixar para trás estas ruas cinzas e barulhentas, estes montes de fumaça e concreto, esta gente cansativa. 

Estive firme nesta convicção até deparar-me, por coincidência, com algumas passagens de Sêneca, em suas cartas para Lucílio, em que o romano afirma que a mudança de ares não é nada se não se transforma a pessoa primeiro. Podemos ir a qualquer lugar, livrarmo-nos de qualquer coisa, mas nunca de nós mesmos, e se for algo pessoal que nos incomoda, isso estará em qualquer lugar, não importa onde. Essas passagens fizeram-me repensar toda essa "necessidade" que eu acreditava ser essencial para sentir-me mais realizado, de alguma forma, e pensar mais sobre mim mesmo, em como sou no local em que estou.

E hoje, mais uma vez por coincidência, encontrei umas palavras de Rilke sobre Roma que também foram um bocado elucidativas:

"Não, aqui não há mais beleza do que em qualquer outro lugar, e todos esses objetos admirados ao longo de gerações, recuperados e completados por artesãos não têm significado algum, não são nada e não possuem coração nem valor algum - no entanto há muita beleza aqui, como há muita beleza em toda parte". 


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