13 novembro 2019

XXX


I
O que se chama de justiça não é um fato da natureza. A natureza não é moral ou teologicamente justa. Ela apenas é. Por esse motivo não falemos mais de justiça, mas de equilíbrio.
                Tudo no universo se equilibra, ou caminha para esse objetivo. Do Alfa ao Ômega sobre os pratos da mulher que, satisfeita, tudo observa. Aquela que é a dança, em eterno rodopio. A cadeia que faz a mais mísera ação influenciar todo o universo. No Oriente seu nome é Karma.
                Assim, a tarefa do homem deve ser em direção à firmeza do equilíbrio. Forma eficaz de treinar e construir a vontade. O equilíbrio fomenta as estratégias de combate às crenças enraizadas. Identificar ervas daninhas no pensamento e não sucumbir a elas.
                O equilíbrio cria os alicerces para o trabalho, e as dificuldades do trabalho criam a força para vencer. O triunfo só é dado àquele que é ameaçado. Não há forma de purificação terrena além dessa. Buda teria alcançado a consecução sem Mara?
                Mas o vitorioso não deveria carregar consigo a vaidade. Aquele que sabe muito reconhece a própria ignorância. Um homem tolo é mais digno de esperança do que um sábio presunçoso. Há uso para quase todos os sentimentos. Quase todos podem ladrilhar o caminho de alguma forma. Menos o orgulho. O orgulho é sempre inútil.
                Na vaidade o homem condena o homem. E como pode o primeiro presumir que agiria de forma diferente, sob as mesmas condições impostas ao último? E se, mesmo assim, tendo a certeza de que resistiria às tentações, como se pode vilipendiar alguém por ser mais fraco? 
                Então do equilíbrio e da força vem a alma firme. O princípio da coragem, que afasta o fracasso; medo é o fracasso, e semeia o fracasso.
                Destarte, aquele que sobe, deve prostrar-se diante de seu eu superior, mas não tem o direito de temer coisa alguma sobre a terra. E mesmo na coragem, há de buscar o equilíbrio. Não temer não significa desacatar. Os grandes, amigos ou inimigos, não são merecedores de desprezo ou ofensa. Combater o que é necessário, mas não injuriar, pois a injuria, a zombaria, o desprezo e as ofensas pavimentam a estrada do engano.

II
                O homem, como parte da humanidade, não afeta apenas a si mesmo através de suas ações, mas ao todo. “Há espaço entre você e o sol?”, pergunta o professor. Não há lugar vazio, assim como não há ação que não reverbere por todo lado, para sempre.
                O corpo material é o veículo do trabalho, e esse responde ao equilíbrio. Que a razão e as emoções sejam disciplinadas, e daí ocorra a constância da mente, o que livra das perturbações. Olhai para o alto, para além da desordem material. Aquele que pensa no divino é, do divino, objeto de pensamento.
                O trabalho é executado por ter valor em si mesmo. Ansiar por resultado é ansiar. E ansiar é sofrer. Tudo que tiver de realizar, deve realizar da melhor maneira possível. A atividade é força para o corpo e a mente.
                Assim também é com o que é feito pelos outros. O que chamamos de “bem”, deve ser feito pela simples realização do trabalho. Já ensinou o Sempre Senhor que o desejo por recompensa é se aferrar à escravidão. A ação, pelo puro amor, é o caminho para a liberdade.
                E que fique claro, além do mais, que amor é o contrário de negligência. Amar significa, também, disciplinar, como nos ensinam as lições da contagem dos 49 dias. Os dois pilares devem estar em equilíbrio. Para sempre, Amém.

III
                Lemos um cartão postal que nos lembra de nossas limitações nesta existência. Que mesmo ser um Deus da Terra significa ser pó perante o cosmos. Qual motivo teria então para se orgulhar, boneco de carne e sangue?
                Abole o orgulho, mas eleva o respeito próprio. Pecar contra si próprio é, talvez, o único pecado. E desses o pior é rejeitar o conhecimento, por fechar os olhos ao que não confirma sua “verdade”. 
Já apontou um homem Santo que, em nosso cérebro, dois habitam; um pensa, o outro trabalha incessantemente para encontrar em tudo validação para o que pensamos. Seu foco é reafirmar nossos preconceitos. Seria preciso aconselhar que se desconfie dele? Nas palavras do mesmo Santo, crer é matar a inteligência.
Aquele que assim caminha e vigia, gradualmente, desbravará as cavernas e submundos, voará nas alturas a plenos pulmões, dançará com o fogo da vontade e banhar-se-á nas águas mais puras. E que sempre tudo isso seja com o olhar voltado para o Altíssimo, pois se a busca é por satisfação dos caprichos terrenos, atrairá apenas o Fraco, e o Fraco lhe tornará Fraco, e reinara sobre ele.

Inspirado nas palavras de Crowley, Vivekananda, Buda, Krishna e RAW. 

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