17 maio 2010

Um cachorro emborrachado

Encontrei as anotações que fiz de um sonho estranho que tive no fim do ano passado. Decidi digitá-las, e aí está.

Eu estava em um lugar amplo, que lembrava um templo antigo, com colunas amareladas, de um dourado envelhecido. Lá havia um homem estranho, alto e forte, de cuja aparência não me recordo bem.

Sentei num degrau e vi um cachorro vindo correndo em minha direção. Quando se aproximou, notei que era muito diferente, sem expressão. Quando o toquei percebi que o cão parecia emborrachado, como uma daquelas máscaras de festas à fantasia. Eu o tocava e acariciava, ele se movia como um cachorro normal, vivo, e não como um autômato de borracha.

Fiquei impressionado porque pensei que aquilo não era possível, haveria realmente algum cachorro cruelmente encarcerado dentro daquela casca de borracha? Era incrível e eu não conseguia deixar de horrorizar-me com a idéia de ter um cachorro preso ali até a morte.

Fui até o dono do local, supostamente o dono do cachorro e perguntei o que era aquilo, se era um cachorro verdadeiro preso ali dentro, e quem praticava aquele tipo de crueldade. O homem era impenetrável, muito sério. Pediu-me para olhar no ânus do cachorro, onde havia inscrições em romeno que indicavam a procedência do animal. Era algo místico, esotérico.

Depois disso ele me convidou para conhecer uma sala (ou corredor) que ficava numa “esquina” dentro de um corredor, difícil de descrever. Entrei nesse corredor mas não tive coragem de entrar no local que ele indicava. Devia haver fogo ou algo do tipo lá dentro, pois via um reflexo alaranjado na parede.

Saí do corredor e encontrei meu pai, minha mãe e um primo do meu pai na porta. Voltei ao início do corredor com esse primo para que ele visse a tal sala do fogo, mas antes de prosseguirmos vi que o homem havia entrado nessa sala anterior à do fogo e mexia um caldeirão com uma mistura que parecia uma sopa grossa. Disse algumas palavras. Ele falava amigavelmente, mas de forma séria. Foi quando, parecendo ser sem querer, derramou um pouco da mistura no chão, e espirrou na minha perna. Pulei com a dor, pois aquilo havia me queimado muito, e com o pulo do susto acabei virando a esquina do corredor. Demorei um pouco para voltar por causa da dor. Quando entrei na sala do caldeirão novamente, onde antes estava o primo do meu pai, havia um esqueleto com alguns pedaços de carne viva, visivelmente queimado brutalmente, mas não com fogo. Era como se tivesse sido fervido ou algo assim, e sobre ele havia a sopa espessa que o homem preparava.

Ele ainda estava na salinha e mexia o caldeirão sem perceber mais nada ao redor. Saí e chamei meus pais para verem o que havia acontecido ao primo. Não lembro da reação deles, mas sei que saímos dali apressadamente.

Aqui há um buraco no que me lembro. Não sei o que fizemos a seguir, mas depois estamos em um ônibus estranho, minha mãe e eu. Não sei o que aconteceu com meu pai.

O ônibus era como uma grande sala, com um vão no meio e cadeiras apenas alinhadas às paredes, todas viradas para o centro do veículo.

Estávamos sentados no fundo, na parede do ônibus. Perto da porta, na frente à direita, havia um negro muito forte. Outro buraco, não sei que acontece, mas alguém entra (ou já estava dentro do ônibus), joga esse negro em cima de um balcão e, esticando seu braço, soca a região do ombro, uma vez só, quebrando-o seriamente. Depois abraça um outro homem e lhe quebra as costelas. Nisso entram no ônibus dois outros caras, muito fortes, também. Um deles pega o sujeito do braço quebrado, ajuda-o a levantar e sai com ele lentamente. O outro saca um revólver e atira impiedosamente contra o brigão.

Então o homem do revólver – um negro de óculos HB pretos, tatuagem tribal no braço – parece procurar alguém entre os passageiros, como se ainda tivesse algo a fazer ali. Saca uma espingarda e começa a atirar contra os passageiros, metodicamente, em sentido horário. Todos permanecem sentados, imóveis. Quando a mira é voltada para nós, preparo-me para tentar desviar, e quando o tiro é dado posso ver o projétil e fragmentos de chumbo vindo em minha direção. Desvio, mas sou atingido de raspão no braço. Isso acontece três vezes. Numa delas o tiro atinge minha mãe na barriga, causando um ferimento preocupante, mas não fatal a curto prazo.

Depois disso não lembro de mais nada com relação ao ônibus. Não sei se há alguma relação entre a primeira parte do sonho e essa outra, mas creio que fugíamos do homem do caldeirão naquele ônibus. Um homem que fabricava cascas de pele de borracha para cachorros.

Fomos parar numa mansão onde havia uns roqueiros cabeludos que, supostamente, poderiam ajudar minha mãe de alguma forma. Eles tinham uns cachorros ferozes, mas não me lembro muito dessa parte.

Em determinado momento minha mãe se dá conta de que também fui atingido e levanta a manga da minha blusa. Vemos que meu braço está coberto de algo que parece sangue a coagular, com aparência de massa de tomate.

Ela passa a mão em meu braço para tentar limpar e a “massa de tomate” vai se acumulando em seus dedos, como quando se passa uma faca sobre a manteiga. Estávamos numa espécie de banheiro e ela joga aquilo na pia. Há uns pedaços de algo verde no meio. Ela passa a mão várias vezes e sempre tira mais e mais daquilo do meu braço e joga na pia. Havia já muita daquela gosma lá.

Foi minha última visão no sonho...

Um comentário: