02 agosto 2011

Satanismo, caranguejos e zumbis

Como muitos, achei por um bocado de tempo que os filmes do Zé do Caixão (Mojica) eram os únicos de terror lançados no Brasil. Aliás, também há bastante gente que acredita não haver filme de terror algum por estas terras. Claro que rola uma vergonha em admitir isso mas, tentando me redimir, comecei a pesquisar um pouco sobre a produção - recente - do terror nacional e, inicialmente, deparei-me com dois filmes: Amor só de mãe e Mangue Negro. O primeiro conheci no cynicozilla.blogspot.com, já o Mangue Negro não me lembro onde fiquei sabendo, mas lembro que a L. o indicou para mim, embora já soubesse de sua existência.


Assisti primeiro o Amor só de mãe, um premiado curta do diretor Dennison Ramalho. Não havia pretensão nenhuma da minha parte para com o filme, tanto que o coloquei para rodar enquanto esperava a L. chegar em casa, sentado ao computador. Para minha surpresa o filme rapidamente capturou toda minha atenção desde os momentos iniciais, com alusões a satanismo misturado à magia negra afro-brasileira do começo ao fim. Não há aqui qualquer pretensão a efeitos visuais rebuscados, mas um foco na tensão psicológica, pois as situações criadas não são aquelas que chocam o espectador pela violência gráfica, mas pela "coisa ruim" causada por presenciar o que se passa. De passatempo o filme entrou para os meus poucos favoritos no filmow assim que terminei de assisti-lo.

O diretor Dennison Ramalho tem um outro filme chamado Ninjas que, se não me engano, mostra um grupo de operações especiais da policia, com direito a tortura e muita violência gráfica, mas parece que não é nada fácil encontrá-lo.

Já com Mangue Negro a história era outra. Eu sabia que o filme é aclamado como uma das maiores produções do terror nacional, uma das mais criativas, e esperava muito do filme. Talvez por isso tenha me decepcionado. Não que o filme seja ruim, pelo contrário, é interessantíssimo, muito criativo, mas alguns aspectos não me agradaram. Para não ser injusto e apontar somente o que para mim foram falhas, comento também um pouco do que mais gostei no filme.

Em Mangue Negro os personagens principais aparecem cobertos de sangue desde quando a ação começa até o final do filme. Mas cobertos mesmo de sangue, dos pés à cabeça, e não pude deixar de pensar em uma homenagem aos tempos de ouro do mestre Raimi, embora Luis (Walderrama dos Santos) não tenha, nem de longe, o carisma de um Ash. Por falar em Evil Dead, há aqui uma linda cena em stop-motion de um zumbi mecânico enlouquecido dentro de uma cabana. Impossível não lembrar das antológicas cenas finais do primeiro filme da trilogia do Sr. Raimi. Aliás, os zumbis mecanizados são um show à parte, com uma maquiagem tenebrosa que realmente convence.

Agora, um dos pontos que mais me chatearam durante o filme: os atores. Não gostei da atuação de nenhum deles, a não ser de Markus Konká, que faz o interessante Agenor. Luis, o protagonista, é extremamente insosso e, quando toma os ares de herói por conta de uma moça por quem é apaixonado, não convence, além de cair em um clichê desnecessário. Outro problema com os personagens é o fato de não terem colocado mulheres para fazer o papel das velhas. Por que diabos usar homens maquiados no papel de senhoras idosas? Não acredito que não havia atrizes disponíveis para isso, já que o resultado é sofrível. A mãe da personagem Rachel parece um personagem do antigo Hermes e Renato, enquanto Dona Benedita, a preta velha, aporrinha nossa paciência em longas cenas em que sua voz de homem-fingindo-ser-uma-velha se arrasta.

Há também um problema com a maquiagem que não entendi, já que nos zumbis ela é muito boa; o pai de Rachel é um homem idoso, mas quando o vemos pela primeira vez, parece um sujeito com o corpo completamente coberto por queimaduras. Esperei a explicação para essas cicatrizes até que entra em cena Dona Benedita e, só então, entendi que as queimaduras eram para ser rugas (?), e que o homem queimado era, na verdade, só um velho.

Apesar das falhas, mangue negro é um bom filme que vem nesta safra de filmes que promete muito.

Claro que ainda me falta conhecer muita coisa, não vi nenhum filme do Felipe M. Guerra, as coisas da Black Vomit, etc., mas já deu para saber que não só de Zé do Caixão vive o lado esquerdo do cinema nacional, e ficar satisfeito por saber que há muito a conhecer e muito ainda a surgir.

P.S.: é interessante saber que Amor só de mãe foi inspirado em uma música de Vicente Celestino, chamada Coração Materno. Ei-la:

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