09 agosto 2010

Cada coração é uma célula libertária

Eu não assisti a muitos filmes na vida. Quando uma pessoa fala que já assistiu a muitos, eu espero que realmente sejam MUITOS. Não é meu caso. Não assisti a tantos, mas acredito ter visto filmes o suficiente para tornar-me um pouco chato. Certos clichês me aborrecem, e às vezes me fazem perder totalmente o interesse pelo filme.

Não na categoria de destruir um filme, mas na de aborrecer um tanto, está o mais frequente desses clichês: o caso de amor entre protagonistas. Eu gostaria de saber porque apenas em pouquíssimos filmes somos poupados dessa situação que, grande parte das vezes, acaba embolando e desvirtuando a trama. Às vezes um pouco, em outras, acabando completamente com o filme.

Ontem assisti ao alemão The Edukators que, assim como tantos, sofre dessa enfermidade. A idéia do filme é ótima, quando li a sinopse fiquei muito interessado pelo contexto de terrorismo poético e intervenção presentes na história. Tudo funciona muito bem até mais ou menos a metade do filme, quando a paixonite entre dois dos personagens faz com que o rapaz esqueça dos seus anos de prática em invasão de mansões e ponha todos os seus ideais e sua causa em jogo. É uma dessas situações que soam inverossímeis, principalmente quando acompanhamos a construção do caráter engajado e militante do personagem.


Um dos momentos mais lúcidos do cinema mais atual, no que diz respeito ao "amor" durante o filme, é quando a personagem Marji, do filme Persépolis, militante de ideais libertários, diz que o amor é um sentimento burguês. Tempos depois ela se apaixona por um rapaz, e percebe que os ideais não salvam uma pessoa dessas coisas. É simples, sincero, verossímil. Não há nada forçado, podemos sentir que a coisa acontece, tem seu tempo. Os Edukadores sofrem o contrário disso, o romance acontece rápido demais, e estraga tudo o que esperamos para o filme. Não que quebrar expectativas seja ruim, mas o filme poderia seguir um caminho mais "contestador", poderíamos dizer. É um bom filme, recomendaria aos amigos mas, no fim, ainda prefiro a revolução armada homossexual do Raspberry Reich.


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