19 agosto 2011

Posto que Hollywood e as novelas globais transformam em patê os cérebros juvenis

Hoje assisti Tróia com os meus alunos do ensino médio. O filme com o Brad Pitt como Aquiles e tal. Acho o filme espetacular (mesmo isso sendo incoerente com o título deste texto), já que fico realmente emocionado com a possibilidade de visualizar tudo aquilo que imaginamos quando lemos a Iliada. De qualquer forma, o texto não é sobre o que eu acho e sim sobre a recepção do filme pelos alunos.

Certo, falamos um pouco sobre a Ilíada e a Odisséia antes de assistirmos ao filme. Todos sabiam quem era Aquiles, Heitor, a história do cavalo, e tudo mais. Demorou uma boa hora para que os alunos começassem a se interessar de verdade pelo filme, o que aconteceu lá pela cena em que Páris desafia Menelau. A partir daí não queriam mais parar de ver, e o interesse foi crescendo, tanto pelo filme quanto por alguns aspectos da cultura grega.

Acompanhamos aquele romance insosso do Aquiles e da Briseides (que confesso, não lembro se há no livro, que li há tempos). Todos sabem que no final Aquiles morre e, no filme, há uma cena dramática onde ele, imediatamente após reencontrar Briseides, é cravejado pelas flechas de Páris. Neste momento os alunos iniciaram uma série de brados indignados contra Páris, pois "Aquiles e Briseides mereciam ficar juntos", "eles se amam", e toda esta lorota romantizada que é injetada todos os dias nestes cérebros tão fragilizados.

Os alunos, a partir do meio do filme até a tomada da cidade troiana, estavam adorando tudo. Mas, ao final, depois da morte de Aquiles, disseram ter odiado assistir aquilo, pois aquele final teria estragado a história.

Estragado a HISTÓRIA?

Este bombardeio da cultura do melodrama, da romantização forçada de todas as situações, do terrível clichê hollywoodiano de sempre criar um casal dentro de um filme - seja na história que for - idiotizou as pessoas. Sempre suspeitei que isso acontecia, mas hoje pude comprovar de forma irrefutável. Se o casal não sela seu romance pela eternidade, ou se, pelo menos, seu fim não é representado por meio de um sacrifício de amor sem precedentes, não há sentido nos acontecimentos, tudo é em vão.

Quem é Agamenon ou Heitor? Quem se importa com Ulisses e aquele seu cavalinho tosco? E o destino dos mirmidões? A quem interessa que Tróia tenha combater toda a Grécia sozinha? Isso não é história! A história só vale pelo amor de Aquiles e a troiana que, por não ter se concretizado, não concretizou a própria história.


16 agosto 2011

O sagrado ódio da hora do almoço

Já falei disso antes, mas não consigo não me chocar com a existência real de "socialites", festas beneficentes onde todo mundo come caviar, bebe champanhe, esse tipo de coisa. Pior ainda é ver que a cobertura desse tipo de evento tem espaço na TV aberta, ou seja, é para pobre ver! E eu não consigo admitir que alguém queira assistir um senil apresentador medíocre entrevistando "damas" em suas festas de aniversário onde vão 500 pessoas discutir como são bondosas para a sociedade; e o programa nos mostra, por tabela, o quanto elas são boas demais para se misturar a essa mesma sociedade que tanto amam e ajudam com seus bailes beneficentes e arrecadações de caridade.

Tem muita gente legal por aí que não deseja o mal para ninguém e tal. Eu desejo.

05 agosto 2011

A fênix de Wembley

O ano: 1958. O time do Manchester United, novo gigante do futebol britânico e europeu, composto por jovens garotos, sofre um grave acidente de avião na Alemanha, quando retornava de um jogo contra o Estrela Vermelha, da Iugoslávia. Apenas 3 dos jogadores voltam para casa.

Nesse tempo o futebol ainda não era o mega-mercado de hoje em dia. O Manchester começa a receber cartas com singelas contribuições às famílias dos jogadores, que não tinham seguro e mal ganhavam o suficiente para poderem se casar. Crianças enviavam suas mesadas e secretárias voluntárias - já que não havia dinheiro para salários - ajudavam a separar as cartas. O time quase acaba, pois não havia verba para a contratação de novos jogadores, mas sabemos que as coisas não terminaram por aí para os demônios vermelhos.

Na final da Copa dos Campeões, ainda em 1958, o United, com apenas três dos jogadores originais em campo, apresenta seu novo uniforme, com uma fênix dourada no peito. Os Busty Babes ressurgiam das cinzas para reiniciar o vôo daquele que seria um dos maiores times europeus.




02 agosto 2011

Satanismo, caranguejos e zumbis

Como muitos, achei por um bocado de tempo que os filmes do Zé do Caixão (Mojica) eram os únicos de terror lançados no Brasil. Aliás, também há bastante gente que acredita não haver filme de terror algum por estas terras. Claro que rola uma vergonha em admitir isso mas, tentando me redimir, comecei a pesquisar um pouco sobre a produção - recente - do terror nacional e, inicialmente, deparei-me com dois filmes: Amor só de mãe e Mangue Negro. O primeiro conheci no cynicozilla.blogspot.com, já o Mangue Negro não me lembro onde fiquei sabendo, mas lembro que a L. o indicou para mim, embora já soubesse de sua existência.


Assisti primeiro o Amor só de mãe, um premiado curta do diretor Dennison Ramalho. Não havia pretensão nenhuma da minha parte para com o filme, tanto que o coloquei para rodar enquanto esperava a L. chegar em casa, sentado ao computador. Para minha surpresa o filme rapidamente capturou toda minha atenção desde os momentos iniciais, com alusões a satanismo misturado à magia negra afro-brasileira do começo ao fim. Não há aqui qualquer pretensão a efeitos visuais rebuscados, mas um foco na tensão psicológica, pois as situações criadas não são aquelas que chocam o espectador pela violência gráfica, mas pela "coisa ruim" causada por presenciar o que se passa. De passatempo o filme entrou para os meus poucos favoritos no filmow assim que terminei de assisti-lo.

O diretor Dennison Ramalho tem um outro filme chamado Ninjas que, se não me engano, mostra um grupo de operações especiais da policia, com direito a tortura e muita violência gráfica, mas parece que não é nada fácil encontrá-lo.

Já com Mangue Negro a história era outra. Eu sabia que o filme é aclamado como uma das maiores produções do terror nacional, uma das mais criativas, e esperava muito do filme. Talvez por isso tenha me decepcionado. Não que o filme seja ruim, pelo contrário, é interessantíssimo, muito criativo, mas alguns aspectos não me agradaram. Para não ser injusto e apontar somente o que para mim foram falhas, comento também um pouco do que mais gostei no filme.

Em Mangue Negro os personagens principais aparecem cobertos de sangue desde quando a ação começa até o final do filme. Mas cobertos mesmo de sangue, dos pés à cabeça, e não pude deixar de pensar em uma homenagem aos tempos de ouro do mestre Raimi, embora Luis (Walderrama dos Santos) não tenha, nem de longe, o carisma de um Ash. Por falar em Evil Dead, há aqui uma linda cena em stop-motion de um zumbi mecânico enlouquecido dentro de uma cabana. Impossível não lembrar das antológicas cenas finais do primeiro filme da trilogia do Sr. Raimi. Aliás, os zumbis mecanizados são um show à parte, com uma maquiagem tenebrosa que realmente convence.

Agora, um dos pontos que mais me chatearam durante o filme: os atores. Não gostei da atuação de nenhum deles, a não ser de Markus Konká, que faz o interessante Agenor. Luis, o protagonista, é extremamente insosso e, quando toma os ares de herói por conta de uma moça por quem é apaixonado, não convence, além de cair em um clichê desnecessário. Outro problema com os personagens é o fato de não terem colocado mulheres para fazer o papel das velhas. Por que diabos usar homens maquiados no papel de senhoras idosas? Não acredito que não havia atrizes disponíveis para isso, já que o resultado é sofrível. A mãe da personagem Rachel parece um personagem do antigo Hermes e Renato, enquanto Dona Benedita, a preta velha, aporrinha nossa paciência em longas cenas em que sua voz de homem-fingindo-ser-uma-velha se arrasta.

Há também um problema com a maquiagem que não entendi, já que nos zumbis ela é muito boa; o pai de Rachel é um homem idoso, mas quando o vemos pela primeira vez, parece um sujeito com o corpo completamente coberto por queimaduras. Esperei a explicação para essas cicatrizes até que entra em cena Dona Benedita e, só então, entendi que as queimaduras eram para ser rugas (?), e que o homem queimado era, na verdade, só um velho.

Apesar das falhas, mangue negro é um bom filme que vem nesta safra de filmes que promete muito.

Claro que ainda me falta conhecer muita coisa, não vi nenhum filme do Felipe M. Guerra, as coisas da Black Vomit, etc., mas já deu para saber que não só de Zé do Caixão vive o lado esquerdo do cinema nacional, e ficar satisfeito por saber que há muito a conhecer e muito ainda a surgir.

P.S.: é interessante saber que Amor só de mãe foi inspirado em uma música de Vicente Celestino, chamada Coração Materno. Ei-la: